Os filhos adultos de hoje estão vivendo um cenário bem diferente do que seus pais e avós experimentaram. A chamada “geração canguru” é um fenômeno crescente no Brasil, onde jovens entre 24 e 34 anos permanecem morando com os pais por mais tempo do que se via em gerações anteriores.
Mesmo quando esses filhos já têm a capacidade financeira de se sustentar, muitos optam por continuar no conforto da casa dos pais. Mas por que isso acontece?
Dados do Ibope revelam que, entre 2012 e 2022, o número de jovens entre 24 e 34 anos morando com os pais aumentou substancialmente.
Além das dificuldades financeiras, a precarização do mercado de trabalho e a busca incessante por qualificações que nem sempre resultam em melhores salários são elementos que empurram esses filhos a continuarem no lar familiar.
Nesse contexto, a pressão social para que se atinja a independência financeira ainda na juventude é muitas vezes incompatível com a realidade enfrentada pelos jovens brasileiros.
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Além das questões econômicas, o fator emocional desempenha um papel central na permanência dos filhos na casa dos pais. As dinâmicas familiares, por vezes, criam um ambiente de dependência emocional que dificulta a autonomia.
Ou seja, pais que passaram por dificuldades na juventude muitas vezes desejam proteger seus filhos dessas experiências, oferecendo mais conforto do que tiveram. Logo, esse cuidado, por mais bem-intencionado que seja, pode se transformar em um obstáculo para o desenvolvimento da independência emocional dos filhos.
Ademais, muitos pais temem o que é conhecido como “síndrome do ninho vazio”, um sentimento de perda que surge quando os filhos finalmente deixam o lar. Esse medo pode se manifestar em ações, conscientes ou não, que fazem os filhos sentirem-se culpados por se afastarem.
Por outro lado, os próprios jovens podem ter dificuldades em lidar com as incertezas da vida adulta, preferindo a segurança da casa dos pais. A ansiedade e a depressão são comuns entre aqueles que se veem incapazes de trilhar um caminho independente, criando um ciclo de dependência difícil de romper.
Viver sob o mesmo teto com os pais pode levar a conflitos que, em alguns casos, tornam a convivência insustentável. As divergências de opinião, que podem ser toleráveis em encontros esporádicos, tornam-se motivo de brigas constantes quando o contato é diário.
Para alguns, a solução é sair de casa, o que pode ser benéfico tanto para os pais quanto para os filhos. Com a distância, a relação pode se tornar mais saudável e respeitosa, como ocorreu com a arquiteta Gisele Scheunnemann, que explicou ao Correio do Povo que viu sua relação com a mãe melhorar após mudar-se para a Alemanha.
No entanto, essa não é a realidade de todos. Alguns filhos, como a estagiária Luiza Schenkel, sentem-se presos a um ciclo de dependência que, ao mesmo tempo em que proporciona segurança, impede o pleno desenvolvimento da autonomia. Luiza também concedeu entrevista ao Correio do Povo.
O retorno forçado à casa dos pais, mesmo que temporário, pode ser vivido como uma derrota pessoal. Para muitos, sair de casa é um rito de passagem essencial para o crescimento pessoal e emocional, permitindo o autoconhecimento e o aprendizado sobre a própria capacidade de viver de forma independente.
Para outros filhos, a escolha de permanecer na casa dos pais não é sinônimo de dependência, mas de uma decisão ponderada e mutuamente benéfica. Lidiane Bischoff, educadora física, diz ao jornal Correio do Povo que vê sua permanência como uma forma de fortalecer os laços familiares, ao mesmo tempo em que aproveita as vantagens financeiras para investir em seu futuro.
Dessa forma, a relação harmoniosa com os pais permite que ela se sinta confortável e apoiada, sem pressa para seguir um caminho de independência que a sociedade muitas vezes pressiona os jovens a trilhar.
Morar com os pais pode ser uma escolha consciente e positiva, desde que as relações sejam baseadas no respeito e na valorização da individualidade. Nesse contexto, a harmonia no lar, quando bem cultivada, oferece um ambiente seguro e amoroso, onde tanto os pais quanto os filhos se sentem valorizados e acolhidos.
Afinal, não há um tempo certo para sair de casa: cada pessoa tem seu próprio ritmo, e a verdadeira independência está em viver de acordo com suas próprias necessidades e desejos, em um ambiente que favoreça o bem-estar e o crescimento pessoal.
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